A saga da pitayaflix e o que cultivar sementes tem me ensinado

Giovana H. Meneguin
4 min readMay 10, 2021

Por Giovana H. Meneguin

Foto: arquivo pessoal.

Desde meados de abril, quando decidi plantar algumas sementinhas de pitaya, percebi que não há nada mais empolgante do que acompanhar a germinação e crescimento daquelas pequenas sementes. Pode parecer clichê, mas apreciar a beleza das coisas mínimas, simples, tem sido um respiro em meio a um início de ano que foi (e ainda está sendo) bastante caótico para mim.

Eu adoro tirar fotos, aproveitar a golden hour e a luz de outono, testar ângulos e técnicas de edição, mas por mais que esteja sendo extremamente prazeroso registrar, dia após dia, o processo de evolução das minhas 32 plantinhas, meus momentos com as babies pitaya, como carinhosamente apelidei as sementes, são, na verdade, de pura desconexão (ou seria conexão?) e apreciação da Natureza. Aliás, sabe aquela história de esvaziar a mente e estar presente no aqui e agora que a gente ouve nas práticas de meditação? É exatamente assim que me sinto. Meditando.

Doar 10 minutos do meu dia para olhar aqueles brotos minúsculos é paz, é reflexão. É para sentir cheiro de terra molhada, ou o aroma das flores que também moram na varanda de casa, é para ver o céu e trocar alguns olhares profundos com as minhas cachorras, é para notar as texturas e variações de cores nas plantas — se eu te contar que cada uma das 32 mudas tem um tom diferente de verde, você acredita? — , é para pensar como as coisas vão ser daqui alguns anos quando eu estiver comendo a pitaya do meu próprio pé. Imagina só!?

E bom, acima de tudo, com certeza plantar sementinhas está me ensinando a ter paciência. Minha mãe diz que “elas têm o tempo delas”. Sim, ela está certa. Mas não posso negar que é um tanto quanto irritante olhá-las e pensar "poxa, mas hoje não cresceram nem um pouquinho?". Se tudo na vida acontece por alguma razão, não tenho nem uma dúvida sequer de que a minha empreitada com as pitayas veio para eu aprender a respeitar o ciclo de vida dos brotos (e sabe-se lá de quem mais), como a minha mãe, sabiamente, também sempre pontua.

Ah! Meu envolvimento com as pitayas é tamanho que chegou ao ponto de eu me sentir culpada por optar trabalhar em outro espaço da casa num dia desses — com o home-office, causado pela pandemia, passei a trabalhar na varanda. Certa vez, uma bióloga cujo incrível trabalho acompanho pelo Instagram, disse que trabalhar cercada por coisas ou objetos inspiradores, e que representem algo para você, é muito bom e estimulante. De fato, é. E o que pode ser melhor do que trabalhar cercada por plantas e verde, ainda mais estando quase no centrão de São Paulo? Bom, para mim, talvez só morar numa praia. Mas não vou negar que vez ou outra faz bem mudar de ares, de cenário. Isso é normal, não é mesmo? Enfim, voltando ao assunto, no tal dia em que fiquei com vontade de ir para outro canto, a culpa foi tanta que, antes de mudar meus itens de trabalho da varanda para o quarto, passei nos vasinhos para avisá-los que eu não estava abandonando ninguém, só estava com vontade de estar em outro lugar. Vê se pode… logo eu que sempre soltei um "mãe, o que você está fazendo?" cada uma das vezes que flagrei-a conversando com suas plantas.

Também não vou negar que comecei a sentir um certo ciúme dos meus brotinhos. Certo dia, minha irmã me perguntou se poderia dar um vasinho para a mãe do namorado; eu prontamente respondi: "não, temos que esperar elas crescerem mais, para estarem mais forte". Mentira. Quer dizer, nem tanto já que as plantinhas foram colocadas nos pequenos vasos recentemente e suas raízes ainda são bem miudinhas e frágeis; mas, no fundo, que eu quero adiar a despedida, eu quero.

Além de me aventurar pelo mundo das pitayas, também tenho me arriscado com um abacaxi — e com uma corações-emaranhados (Ceropegia woodii) e uma jiboia (Epipremnum pinnatum), importante dizer que ambas dispensam regas frequentes . Na fila para cultivar, está uma hortinha de microverdes e algumas margaridas. E também já coloquei na minha listinha de frutas que preciso plantar a pinha do norte e atemoia, manga, maçã, laranja kinkan e tomate. Boa sorte para a varanda de casa, que terá que ceder seu espaço para tudo isso, e para minha mãe, que com certeza vai ter que me ajudar em mais essa aventura caseira.

*Compartilho a lenta evolução dos brotos de pitaya no Instagram, no destaque pitayaflix.

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