Baleias

Giovana H. Meneguin
3 min readJul 23, 2021

Por Giovana H. Meneguin

Foto: Thomas Kelley/ Unsplash.

Quase 16 metros de comprimento e cerca de 40 toneladas. Esses são alguns dados fascinantes sobre as baleias jubarte (Megaptera novaeangliae). Diante desses poucos números, já é possível perceber que nós, humanos, não chegamos nem perto da grandeza desses mamíferos

Há tempos que acompanho o fascinante mundo das jubartes (e orcas, cachalotes, baleias-azuis e de-bryde) pelo Instagram através das fotografias estonteantes de alguns aventureiros - a maioria fotógrafos da NatGeo ou pesquisadores brasileiros.

Aliás, ver fotos subaquáticas num geral foi um dos motivos que me levou a procurar por um curso de mergulho. Claro, não são só as fotos. O mar me fascina e encanta. Mas me imaginar um dia, quem sabe, pelo oceano fazendo fotos, vivenciando a vida marinha e espalhando a mensagem do quão maravilhoso nosso mundo é… uau! A empolgação mal cabe em mim!

E esse é justamente o ponto ao qual eu queria chegar. Para fazer as fotos que eu tanto admiro, sei que, acima de um equipamento poderoso, é preciso que os fotógrafos estejam na água com os animais.

Agora, imagine, estar perto de um ser tão imponente quanto uma baleia jubarte?

Confesso que nem nos meus mais ousados sonhos eu poderia imaginar como é estar lado a lado de uma jubarte. No entanto, contrariando todas as minhas expectativas, na minha primeira vez na Laje de Santos - que foi um tanto quanto atrapalhada pela minha falta de prática com o mergulho, diga-se de passagem - lá estava ela.

A água gelada ainda era perceptível apesar do neoprene de 5mm. Dizem que o segundo mergulho é sempre mais frio do que o primeiro. E é verdade; afinal, o corpo já está gelado. No meu caso, além de mais frio, meu segundo mergulho na Laje foi tão desastroso quanto o primeiro, mas ao menos eu estava um pouco mais adaptada com o colete estilo jacket e, felizmente, não desperdicei meu ar inflando e desinflando o mesmo (mas a história sobre o dia em que voltei à superfície com 50bar fica para outro dia).

Tartarugas, ao menos três espécies de raias, cardumes e até mesmo o Moreia. Apesar da água meio turva e da correnteza, havia muita vida e, com certeza, foi bastante proveitoso. Um barulho distante, diferente das bolhas, acompanhou o nado. Como ferro raspando numa superfície, o som embalou os 40/ 45 minutos de mergulho. Na hora, confesso que não dei muita atenção - estava um pouco eufórica, tentando fazer direito naquele primeiro dia semanas após o curso.

Voltar para a superfície foi tão desafiador quanto colocar em prática lá embaixo tudo o que eu havia aprendido. O mar estava agitado e as águas tão tempestuosas que foi necessário esperar uma brecha das ondas para ser puxada pelo cilindro para cima do barco. Quando atingi o convés, meu corpo já sentia o peso do equipamento, e a sensação de estar mareada batia à porta. Mas foi tudo muito rápido.

"BALEIA!", gritou o capitão.

Terminei de desclipar o colete, coloquei máscara e nadadeiras num canto e corri para a proa. Dentre os muitos pensamentos que passaram pela minha cabeça, "que droga, não vai dar pra pegar o celular" foi o principal. Um dorso negro então despontou da água a estibordo, se estava há 5 metros do barco, era muito. O som extra do mergulho estava explicado. A jubarte foi muito rápida em seu espetáculo.

Curiosamente, mesmo mergulhando como uma pata desengonçada naquele dia, consegui fazer alguns vídeos e fotos. E, apesar da minha câmera ter inundado durante o passeio, registrei o canto daquela baleia (ou então de alguma outra, quem sabe?). O melhor vídeo feito por mim até hoje. No fim, um dia cheio de contratempos valeu muito a pena - teve até eu quase me misturando a um outro grupo de mergulhadores; pois é, mas isso também fica para outro dia.

O pensamento de ter dividido aquelas águas com uma gigante é reconfortante e gera um sentimento de nostalgia, vontade de quero mais - enquanto escrevo este texto, confinada em meu apê quase no centro de Sampa, bem que eu poderia estar explorando as águas litorâneas na tentativa de ouvir ou ver uma jubarte de novo.

Que encontro, como somos pequenos em meio a tanto. Mas em breve tem mais.

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