Reflexões sobre o EI e a OceanGate

Giovana H. Meneguin
3 min readJun 25, 2023

Por Giovana H. Meneguin

Foto: Keith Hardy/ Unsplash

Essa semana, ou melhor, no sábado, eu li o livro da Nadia Murad, Que Eu Seja A Última, no título em português.

Nadia é uma ativista iraquiana que, em 2014, foi sequestrada pelo Estado Islâmico após ver membros de sua família e comunidade serem brutalmente mortos pelo grupo terrorista. A vila yazidi onde Nadia nasceu e cresceu, Kocho, também foi tomada pelo EI.

Depois de alguns meses nas mãos dos terroristas, ela conseguiu escapar. A partir de então, Nadia Murad passou a contar sua história para o mundo e chamar atenção para a violência sexual contra meninas e mulheres como arma de guerra. Em 2018, ela venceu o Nobel da Paz pelos seus esforços diante do tema.

Coincidentemente, a leitura (talvez uma das minhas mais intensas e tristes até então) se deu na mesma semana que o que restou do submersível Titan, da OceanGate, era encontrado por membros da marinha dos Estados Unidos.

Longe de mim querer entrar na discussão os bilionários devem fazer isso ou aquilo com o dinheiro deles ou, então, naqueles papos macabros que vão pelo caminho das piadas e de frases como bem feito que fulano morreu, mas não posso deixar de falar que fiquei, sim, imersa em muitos pensamentos.

Nas últimas semanas, foi simplesmente impossível fugir dos temas Titanic, submersível, exploração oceânica e OceanGate. No entanto, há uma semana eu não conhecia a triste história da Nadia, que aconteceu em 2014. Não faz tanto tempo assim.

Lendo o livro da iraquiana, só consegui pensar em como meus problemas são pequenos e banais.

Como, em pleno século 21, a morte de cinco bilionários que escolheram participar de uma empreitada cheia de riscos pode nos comover mais do que os horrores que milhares de pessoas vivem todos os dias no Iraque e na Síria, por exemplo, ou a tragédia de migrantes que morrem diariamente nas águas da Grécia e da Itália em busca de condições melhores de vida?

Aqui, não posso deixar de trazer o seguinte trecho do livro de Nadia:

Ainda acho que ser obrigado a sair de sua terra natal por puro medo é uma das piores injustiças que um ser humano pode enfrentar. (…) você arrisca sua vida para morar num lugar que não lhe significa nada. Um lugar em que (…) você não é bem-vindo.

Nesse cenário, a exploração oceânica perde até importância.

Desabafo feito, a pergunta que fica é: o que eu e você, do nosso confortável sofá de casa, podemos fazer?

Bom, meu pensamento é o seguinte:

Primeiro, buscar saber. Ler e se interessar por assuntos além da nossa bolha.

Escutar e procurar participar de rodas de conversa e palestras — sabia que a Nadia esteve no Brasil recentemente? Eu não sabia. Aliás, primeiro descobri sua palestra e, depois, o livro.

Compartilhar com familiares e amigos, para que mais gente tenha conhecimento dessas histórias.

A nível local, acredito que para além de tudo o que já listei acima, a gente sempre pode engajar de fato com causas relevantes, apoiando ONGs, fazendo doações, cobrando políticos por mais políticas públicas e, claro, votar com consciência.

  • Se você quer saber mais sobre a Nadia Murad, vale a leitura de seu livro, Que Eu Seja A Última. Em 2016, ela deu essa entrevista (em inglês) ao programa BBC HARDtalk, da BBC, contando sua história. No ano passado ela conversou com a cantora Dua Lipa no podcast de entrevistas Dua Lipa: At Your Service, também da BBC.
  • Se você se interessa pelo Titanic, vale a pena conhecer a história de Robert Ballard, o homem que encontrou o transatlântico repousando no leito do Atlântico Norte depois de 73 anos do naufrágio.
  • O conceito de submarinos e submersíveis é tudo menos novo. Por volta de 1775, David Bushnell desenvolveu o “Turtle” já pensando em ataques submarinos contra os navios ingleses durante a Revolução Americana. E, antes dele, o holandês Cornelis Drebbel propôs algo semelhante em 1620. Você pode conferir essa história nessa matéria da National Geographic (em inglês).

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